Por Sérgio Nascimento
Nas minhas reminiscências de menino, resgato do fio mais profundo da memória lembranças dos tempos em que verdadeiramente havia os festejos de fim de ano. Na minha comunidade, nenhum enfeite que remetesse ao período. Não era necessário, o Natal e Ano Novo era percebido pelo comportamento das pessoas. No meu tempo, já nos dias que antecediam as datas, notava-se certo aroma e certa atmosfera que começava a envolver todo mundo.
Dias antes dos festejos, o cheiro do bolo preto exalava a casa dos meus pais e as residências dos vizinhos. Quando chegava a noite de Natal, antes de saborear todas guloseimas que formavam a ceia natalina, as famílias se deslocavam para a igreja. Todos caminhavam devagar e em paz, na noite de ruas vazias, vestidos elegante e confortavelmente para celebrar o aniversário do Menino Deus. Ouviam-se alguns cânticos natalinos, tocava-se o sino e iniciava-se a missa. O forró, a seresta, o brega ou dance só depois da celebração. Não era regra, era respeito. Na noite de Ano Novo nada mudava, o ritual era o mesmo.
Era uma tempestade de fraternidade. As pessoas se regozijavam, vizinhos faziam uma verdadeira procissão de casa em casa desejando feliz natal, um próspero Ano Novo e o convite (aí de quem recusasse) para deleitar-se de seus respectivos jantares. Na rua, já no ápice das comemorações tinha de tudo um pouco: parque de diversão, bancas de jogos, crianças correndo e pulando, vendedor de algodão doce, gente que ia, outros que voltavam, casais de namorados enfeitando a praça, sorrisos estampados nos rostos, gente proseando, bebendo e comendo na calçada de sua casa. Era tudo tão mágico! Os bons momentos deixam cravados no coração saudades de um tempo que passou e não volta mais.
Ultimamente parece que o encanto acabou, ou seja, a ausência da essência. Hoje, as ruas ganharam os mais belos enfeites para a ocasião, os fogos iluminam os céus enquanto os seres estão repletos de escuridão. O mais importante, encantador e modal é postar que passou o Natal ou Réveillon na melhor balada, na mais perfeita onda. Sem o paredão não há comemoração. É tristeza total. Quanta diferença! Assim sendo, o ano de 2020 está chegando e a recordação traz a saudade daquilo que a gente viveu. Contudo, meu desejo para esta nova década é que o imo do Natal e Ano Novo retorne e permaneça no coração de cada um. Feliz 2020, amigos!