Crise Política: Trump ganha apoio em cruzada jurídica e política, e Biden fala em vergonha - Informativo Atitude

Crise Política: Trump ganha apoio em cruzada jurídica e política, e Biden fala em vergonha

A empreitada de Donald Trump em não aceitar a derrota para Joe Biden ganhou novos e simbólicos contornos nesta semana, o que elevou a tensão e o impasse nos EUA.

Trump avançou sua cruzada no campo jurídico e político, sob o falso argumento de que a eleição foi fraudada, enquanto Biden foi a público dizer que considera a postura negacionista do presidente “uma vergonha” que deve prejudicar ainda mais o legado do republicano.

“Eu acho que é uma vergonha, para ser franco. Como posso dizer isso com mais tato? Acho que não vai ajudar o legado do presidente”, disse Biden em entrevista a jornalistas em Wilmington.

Na avaliação do democrata, a recusa da gestão Trump em dar acesso a recursos e informações do governo para o seu time de transição “não terá muitas consequências” e descartou, por ora, um processo legal para obrigar que a burocracia americana admita sua vitória e inicie o processo formalmente, como é de praxe.

Assim que um novo presidente é declarado eleito, como foi feito com Biden no sábado (7), a Administração de Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês) autoriza o início da transição, o que ainda não aconteceu.

Biden tenta ocupar o espaço político e lançou na segunda-feira (9) uma força-tarefa para o combate à pandemia de coronavírus, sua prioridade de campanha. Ele disse que seguirá na transição até janeiro com recursos arrecadados na reta final da campanha —a posse está marcada para 20 de janeiro.

Trump, por sua vez, ganhou reforço em sua missão de atacar a democracia e deslegitimar a eleição.

No campo jurídico, o Departamento de Justiça autorizou, na noite de segunda-feira (9), a abertura de inquéritos federais para apurar supostas fraudes no pleito, mais uma vez sem apresentar provas, o que gerou o pedido de demissão do chefe de investigação de crimes eleitorais.

No âmbito político, integrantes da alta cúpula republicana, como o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, endossaram a narrativa de que Biden ainda não pode ser declarado vencedor, mesmo após a projeção da imprensa americana de que o democrata conquistou mais do que os 270 votos necessários no Colégio Eleitoral.

Nesta terça-feira (10), Pompeo falou em “transição suave para um segundo mandato Trump” e se negou a reconhecer a vitória de Biden, utilizando a tese de que é preciso contar “todo voto legal”.

“Nós estamos prontos. O mundo está assistindo ao que está acontecendo. Nós vamos contar todos os votos. Quando o processo estiver completo haverá um eleito selecionado, há um processo, a constituição estabelece de maneira muito clara.”

O secretário havia sido questionado sobre o processo de transferência de poder, que tem sido dificultado pela gestão republicana, e repetiu três vezes que era “ridícula” a pergunta de um jornalista sobre não ser incoerente que o governo americano cobre eleições justas pelo mundo mas não reconheça a derrota agora.

“Este departamento se preocupa profundamente que as eleições sejam livres e justas ao redor do mundo. Meus funcionários arriscam a vida deles para garantir que isso aconteça. Também encontramos situações em que não está claro, trabalhamos para descobrir fatos, entender se o resultado reflete a vontade do povo.”

Por não haver uma Justiça Eleitoral centralizada os EUA, como no Brasil, a vitória é projetada por veículos de comunicação de acordo com a apuração nos estados, e o derrotado costuma reconhecer que perdeu, entrando em contato com o vencedor semanas antes da oficialização dos números pelo Colégio Eleitoral.

Quando venceu em 2016, Trump se declarou vitorioso após a agência AP projetar que ele havia derrotado Hillary Clinton e, na ocasião, o presidente não contestou os números da imprensa.

Além de Pompeo, outros figurões do Partido Republicano seguem espalhando desinformação no esforço de dar apoio à recusa de Trump de reconhecer a vitória do adversário.

McConnell, por exemplo, afirmou nesta terça que o comportamento do presidente não era motivo de alarde e que o vencedor da eleição será conhecido após a reunião do Colégio Eleitoral, em 14 de dezembro.

Integrantes do governo Trump ainda têm dúvida sobre quando e se o presidente vai aceitar sua derrota.

Ele entrou com ações judiciais para contestar o resultado da eleição em diversos estados, mas não tem obtido sucesso na maioria deles.

A decisão do secretário de Justiça, William Barr, portanto, de autorizar inquéritos federais para apurar supostas fraudes eleitorais, foi considerado um novo degrau na cruzada jurídica de Trump.

Horas depois, porém, as reações começaram dentro do próprio departamento, quando Richard Pulge, responsável por crimes eleitorais, pediu demissão.

“Tendo me familiarizado com a nova política e suas ramificações, eu, lamentavelmente, devo renunciar ao meu cargo de diretor da seção de crimes eleitorais”, escreveu Pilger aos colegas, segundo o New York Times. Ele seguirá no Departamento de Justiça, mas em um cargo inferior.

A dúvida é se o republicano vai esperar o resultado de todos os processos ou vai admitir que perdeu quando o Colégio Eleitoral se reunir e divulgar o resultado oficial.

Mas há exceções no Partido Republicano, como o senador Mitt Romney, que afirma que é necessário convencer Trump a recuar de sua cruzada e reconhecer Biden como presidente.

A imprensa americana relata que Trump tem sido pressionado por alguns aliados próximos e familiares, como a primeira-dama Melania, a mudar de postura, mas até agora não parece que é isso que vai acontecer.

O principal argumento de Trump é que o voto por correio —prática comum nos EUA e com baixíssimos índices de irregularidade— pode gerar fraude.

Neste ano, em razão da pandemia, houve recorde de cédulas enviadas por correspondência, a maioria de eleitores democratas que viraram a apuração na reta final em estados decisivos, como Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Geórgia.

Haverá recontagem de votos ao menos em Wisconsin e na Geórgia, onde a diferença entre Trump e Biden foi pequena, mas especialistas não acreditam que haja mudança significativa nos números.

Em 2016, por exemplo, Trump ganhou de Hillary em Wisconsin com praticamente a mesma margem que Biden o venceu desta vez: cerca de 20 mil votos.

Na ocasião, não houve solicitação de recontagem por parte da campanha democrata.

FOLHAPRESS

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